Há 300 milhões de anos atrás, o sertão nordestino era coberto por geleiras


Hoje, o sertão do Nordeste é marcado pelos mandacarus, pelas secas freqüentes e pelo calor intenso, mas nem sempre foi assim. Há cerca de 300 milhões de anos, uma vasta porção do que hoje é o Nordeste brasileiro era coberta por geleiras, de cujas bordas se soltavam gigantescos blocos de gelo, icebergs que deslizavam como hoje se vê nos arredores da Antártica. (...)

Uma equipe do Instituto de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP) conseguiu reconstituir esse cenário e provar, pela primeira vez, que houve de fato uma glaciação no Nordeste – antes vista apenas como uma hipótese à espera de confirmação – com base na análise de rochas nas quais as geleiras deixaram cicatrizes ou estrias ao deslizar para o mar. (...)

As marcas registradas pelos blocos de gelo eram as peças que faltavam para completar o quebra-cabeça. “Não restam mais dúvidas de que a glaciação do final da Era Paleozóica, conhecida como idade glacial de Gondwana, atingira também o Brasil”, afirma Rocha Campos, à frente da equipe formada por pesquisadores do IGc, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. (...)

Segundo o geólogo, a cobertura branca provavelmente durou de 15 milhões a 30 milhões de anos no território que viria a ser o Brasil, durante a transição do período Carbonífero para o Permiano. Essa glaciação foi uma das mais longas e intensas fases de refrigeração do planeta de que se tem notícia. O futuro território brasileiro era então ocupado pelas plantas mais primitivas, as gimnospermas (com sementes nuas, sem frutos), que em milhões de anos originaram as coníferas e os pinheiros atuais. Enquanto as gimnospermas deveriam habitar as regiões mais altas, de acordo com o cenário que os pesquisadores começam a delinear, nas mais baixas e úmidas cresciamos vegetais parentes das atuais avencas e samambaias, do grupo das pteridófitas. Nos mares gelados, viviam pequenos invertebrados – a exemplo de moluscos, braquiópodes e equinodermos, como os lírios-do-mar –, além de peixes primitivos.

FONTE: Francisco Bicudo. In: Pesquisa Fapesp, n. 87. São Paulo, Fapesp, maio/2003.
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