Caso o Irã entre em guerra com os Estados Unidos, o que pode acontecer?
A morte do general Qasem Soleimani em Bagdá, após um ataque americano, foi só a cereja do bolo bélico entre Irã e EUA. Em 13 de junho, dois petroleiros, um da Noruega, outro de Taiwan, foram danificados pelo que pareceram ser torpedos perto do Estreito de Ormuz, a saída do Golfo Pérsico, lugar por onde passa 30% de todo o petróleo do mundo. Os EUA acusaram o Irã, que negou.
Em 20 de junho, um enorme drone de reconhecimento americano RQ-4 Global Hawk, 40 metros de asa a asa, valendo US$ 130 milhões, foi abatido no mesmo estreito. Dessa vez o Irã reconheceu a autoria do ataque, afirmando ser seu direito, pois a aeronave estava invadindo seu espaço aéreo. Os americanos afirmaram que foi em mar aberto. Pouco depois, Donald Trump anunciou por seu Twitter que havia ordenado um ataque retaliatório, mas desistido a 10 minutos do início.
Em 1º de julho, a mídia iraniana revelou que o país havia superado em 300 kg o estoque máximo de urânio determinado no Plano de Ação Conjunto Global, acordo de 2015 que visava impedir o país de obter armas nucleares – dando a entender que o Irã pretende voltar a desenvolver um arsenal atômico. Não para por aí: no dia 4, um petroleiro iraniano foi invadido por tropas britânicas, que renderam seus tripulantes, sob a acusação que se destinava ao Hezbollah. O Irã prometeu retaliação.
Duas forças, antigas aliadas
Vai ter guerra? Se tiver, há algo para o que o Irã parece estar preparado: derrubar coisas do ar. O país conta com a Força de Defesa Aérea, parte do Exército especializada em lidar a partir do solo com ameaças pelo ar. A FDA opera equipamentos como bases de radar, mísseis, artilharia e baterias de canhões antiaéreos, e também conta com tropas de infantaria especializada antiaérea, que pode se esconder e disparar seus mísseis Missagh e Qaem contra aviões, drones e helicópteros, sumindo de vista depois disso.
O Irã tem uma velha história com seus maiores inimigos, os EUA. Antes da Revolução Islâmica de 1979, que deu origem ao regime atual, havia a monarquia do xá Reza Pahlavi. Até então, o Irã era um aliado decisivo do Ocidente. Assim, quando a República Islâmica começou, tinha em mãos um arsenal do Ocidente, seu novo inimigo.
E recusou a se aliar à União Soviética, com o primeiro Supremo Líder, Aiatolá Khomeini, declarando o comunismo incompatível com o islã. Isolado, o país teve que desenvolver suas próprias armas. A herança dos tempos ocidentalizados é bem visível nos clones de fuzis alemães e americanos vistos nas mãos dos soldados, os helicópteros AH-1 Supercobra antigos e na versão local, o Toufan. Também os jatos F-14, que foram vendidos ao xá antes de sequer começarem a ser operados pelos EUA. O Irã basicamente copia os americanos, justamente porque são seus inimigos mais prováveis. Em 2012, o país se declarou autossuficiente em matéria de armas.
Mesmo tentando imitar as armas americanas, o Irã sabe bem que não pode vencer no combate convencional. Então a doutrina é de guerrilha, causar o maior dano possível, de forma a tornar a invasão inviável política e economicamente.
Com seu arsenal de mísseis e drones, a ideia do Irã é saturar os céus, atingindo Israel, as forças americanas e possivelmente também a Arábia Saudita. Não é uma ameaça fácil de neutralizar. Em 2015, o chefe da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, o brigadeiro-general Amir Hajizadeh, demonstrou como funciona uma base subterrânea profunda iraniana. Segundo o governo do Irã, essas bases ficam a 500 metros de profundidade, quase impossíveis de atingir, e “em todas as províncias e cidades do Irã”. Pura propaganda? O especialista em defesa israelense Tal Inbar, chefe do Centro de Pesquisa Espacial no Instituto Fisher de Estudos Estratégicos Aeroespaciais, discorda. Afirma que o Irã conta com um “sistema enorme e complexo de túneis” e que poderia ordenar um massivo ataque-surpresa.
Caso haja invasão, também não deve ser moleza. Primeiro porque não haveria um lugar por onde começar o ataque por terra, como na Guerra do Iraque, em que as tropas americanas puderam se concentrar no vizinho e aliado Kuwait. Não é certo que o Iraque, o aliado mais próximo com acesso ao mar, aceitaria permitir uma presença massiva americana logo depois de eles terem saído – e depois de Trump ter azedado as relações proibindo a entrada de iraquianos nos EUA. Além disso, o Iraque está infiltrado por milícias xiitas comandadas pela Guarda Revolucionária do Irã.
Restaria uma invasão anfíbia pela costa do Irã, sempre algo bastante complicado e perigoso, momento no qual as forças americanas estariam extremamente expostas aos ataques por mísseis. Do lado americano, aviões, mísseis e drones tentariam exterminar a parruda defesa antiaérea do país, certamente sofrendo baixas. Além disso, o Irã seguramente mobilizaria suas redes pelo mundo islâmico para incendiar a região.
O Irã não tem chances de impedir que seu regime seja derrubado se os EUA realmente quiserem. A pergunta é: a esse custo todo, vão querer? E, se não quiserem, irá o Irã abandonar de vez a diplomacia e terminar de desenvolver suas armas nuclares? Isso mudaria o jogo completamente.
FONTE: Superinteressante
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Caso o Irã entre em guerra com os Estados Unidos, o que pode acontecer?
Reviewed by Adson Lucas
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janeiro 11, 2020
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